sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Nós, o sexo frágil

Somos mulheres. Temos tendência à ilusão, à fantasia. Com facilidade acreditamos em muito do pouco que vemos; e pensamos conhecer aquilo a fundo, por mais superficial que seja. É nos dado, (creio que por natureza porque não é possível tamanha vocação ao iludir-se), um carma invariável que nos condiciona sempre ao sonhar. A gente sonha com tudo! Sonha com o primeiro beijo, sonha com o tão polêmico "eu te amo", sonha com um mero almoço de domingo protagonizado por nós + o cara + a família dele num restaurante (que quer dizer muito mais do que um simples almoço-de-domingo), sonha com a noite perfeita - a noite das nossas vidas, a primeira.
E por sermos assim, tão cheias de fantasias, supervalorizamos o pouco. No campo dos relacionamentos, então, somos as campeãs mundiais em transformar míseros pontos em glamurosos contos. A gente adora sonhar. É profissão nata das mulheres acreditar nas promessas eternas de um amor tão efêmero dos caras. Muitas vezes, a gente até sabe que aquele "pra sempre" que eles nos devotam durarão a eternidade deles: os próximos 5 minutos, ou os próximos 2 dias... (quem sabe?), mas a gente acredita mesmo assim. Talvez porque junto com essa nossa tendência massacrante à ilusão, venha também uma insistência danada de teimosa, responsável por nos fazer acreditar sempre que "comigo vai ser diferente". E não adianta negar, isso é nosso; não nosso por direito porque ninguém jamais lutaria por coisa do tipo, mas nosso por natureza, algo a ser estudado pelos cientistas da genética como um provável caso de herança restrita ao sexo. (é, os homens se safaram dessa supervalorização dos relacionamentos, sentimentos e palavrinhas... certeza que é coisa do cromossomo x quando em dose dupla).

Mas mesmo assim, paradoxo delicioso que é a mulher. Somos fortes na dor, aguentamos tanto! (Claro que me refiro às dores físicas). Tiramos de letra as sessões de depilação, as contrações da gravidez, as cólicas mentruais e a dor do parto. Mas travamos quando é dor de amor, achamo-nos incapazes frente a ela. Ficamos estáticas, entregamo-nos a ela de maneira tal a ponto de engordarmos quilos e mais quilos com as barras de chocolate, e o choro vem muito fácil. Ninguém mandou se entregar tão facilmente a qualquer amor. Como pode um ser valorizar tanto as coisas do coração?

Não é segredo pra ninguém essa vulnerabilidade feminina ao romantistmo, à espera pela ligação do dia seguinte, ao escrever o nome dela com o sobrenome de todos eles pra ver se combina... É fato consumado. Vimos ao mundo assim, predestinadas. E é por isso que nos tornamos tão frágeis, porque não há dor pior pra derrubar do que dor de amor mal curada; as cólicas e as contrações ficam no chinelo perto dela. E é assim que eles, os homens, os donos das promessas efêmeras, saem tantas vezes ilesos das dores e são considerados fortes. Eles são recifes pras dores certas.
O que fazer, então? Parar de sonhar? Tentar evitar que a paixão tome conta do próximo primeiro encontro? Não mais idealizar profundamente cada frase que sai da boca deles? Talvez fosse uma saída bem eficaz... mas, cá entre nós, até tentamos não nos iludir em cada novo relacionamento, mas não conseguimos êxito completo! Então o jeito é continuar mulher, com tudo aquilo que nos faz mulher: imaginando o príncipe encantado num cavalo branco, querendo aquele que abre a porta do carro e que puxa a cadeira do restaurante. O jeito é continuar a ser legitimamente o sexo frágil, apenas à espera da próxima ilusão perdida.

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